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O lado feioso do paraíso: uma série de irregularidades no Jalapão

O paraíso que é mostrado pela TV Globo esconde uma série de irregularidades: os turistas precisam pagar aos donos das terras onde ficam as atrações

Dunas do Parque do Jalapão, no Tocantins: 17 anos de espera pela desapropriação (Ana Hochheim/Getty Images)

Dunas do Parque do Jalapão, no Tocantins: 17 anos de espera pela desapropriação (Ana Hochheim/Getty Images)

LB

Leo Branco

Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 05h00.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 08h20.

As belas imagens de cachoeiras e dunas exibidas na novela O Outro Lado do Paraíso, da TV Globo, elevaram a procura pelo Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins, onde se a parte da trama. Em 2017, a área recebeu 24 000 visitantes, o dobro do registrado em 2016. Mas o paraíso esconde uma série de irregularidades: os turistas precisam pagar aos donos das terras onde ficam as principais atrações.

Esses proprietários deveriam ter saído dali logo após a criação do parque em 2001. Mas, sem dinheiro, o governo tocantinense só começou a desapropriar terras 13 anos depois. Até agora, saíram apenas quatro dos 91 processos. Uma explicação para o atraso é outro nó. Nos 158 000 hectares do parque vivem 200 famílias descendentes de quilombolas. Por lei, elas têm o direito de viver ali, mas ninguém reconheceu esse território como sendo delas. O motivo? Um jogo de empurra entre órgãos públicos.

O governo tocantinense culpa a falta de recursos do Incra, órgão federal para demarcação de quilombolas, cujo orçamento caiu 90% em sete anos. Sem saber onde vive e quem deve ficar no parque — a maioria está em áreas de difícil o dentro das fazendas —, não dá para calcular o tamanho das desapropriações nem o valor de indenizações. Já o Incra defende que, pela Constituição, o trabalho de encontrar quilombolas também é dos estados.

O resultado do imbróglio é que os investimentos no Jalapão estão travados. Boa parte das estradas que dão o às belezas do parque só recebe veículos com tração nas quatro rodas. Falta uma boa sinalização nas trilhas. E o pior: além do Jalapão, mais de 50% das 312 unidades de conservação brasileiras têm enroscos fundiários, segundo dados do Ministério Público Federal, que mantém uma equipe dedicada ao tema.

Até mesmo em Itatiaia, o parque mais antigo do país, criado na década de 30 na divisa do Rio de Janeiro e com Minas Gerais, 22% dos 28 000 hectares ainda aguardam desapropriação. Na ponta, quem perde é o ecoturismo, um mercado irrisório no Brasil. Na África do Sul, cada um dos 21 parques federais recebe, em média, 300 000 turistas e fatura 8 milhões de dólares por ano. Aqui, os 100 000 visitantes anuais de cada uma das 72 áreas protegidas pela União gastam míseros 220 000 dólares cada um. É o lado ruim de tanta irregularidade.

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