Empresas com capital aberto na B3 a partir de 2023 terão 12 meses após a batida do sino na B3 para se adequar às novas regras (Julia Jabur/Exame)
Isabela Rovaroto
Publicado em 15 de dezembro de 2022 às 06h00.
A diversidade deve ganhar força nas empresas brasileiras em 2023 — pelo menos naquelas listadas na B3, a bolsa brasileira. No próximo ano, entram em vigor regras mais duras para a inclusão de grupos pouco representados, como mulheres, pretos e pardos, pessoas com deficiência e integrantes da comunidade LGBTI+, em conselhos e na alta direção de empresas com capital aberto. A partir de agora, valerá o princípio conhecido como “pratique ou explique”: as empresas com ações na B3 serão escrutinizadas pela própria bolsa.
Quem tiver pouca diversidade terá um prazo para se adequar. Entre as medidas, está a eleição de pelo menos uma mulher ou integrante de outro grupo para o conselho ou a diretoria estatutária do negócio até 2025. Um segundo integrante deve vir até 2026. Empresas com capital aberto na B3 a partir de 2023 terão 12 meses após a batida do sino na B3 para seguir a regra — do contrário, precisarão apresentar justificativas ao mercado.
Quem estiver em desalinho corre o risco de sofrer punições e, em última instância, mudar o regime de listagem para fora do Novo Mercado, onde estão as empresas tidas como de melhor governança — e, em teoria, com papéis mais valorizados. “A proposta não é mandatória, mas as empresas que não cumprirem terão de trazer um esclarecimento nos documentos públicos da companhia”, disse Flavia Mouta, diretora de emissores da B3, na segunda edição do Agora É Que São Elas, evento da EXAME em parceria com o Movimento Aladas, dedicado a cursos e encontros para mulheres empreendedoras. Realizado em 17 de novembro, no Teatro B32, na Avenida Faria Lima, coração do mercado financeiro de São Paulo, o evento debateu o protagonismo feminino nos negócios sob vários ângulos.
Os painéis abordaram temas como as estratégias para aumentar a presença de mulheres em setores tipicamente masculinos, a exemplo do mercado de investimentos pessoais. “A maioria das mulheres ainda prefere terceirizar o serviço para os homens. Muitas só conversam sobre dinheiro em duas ocasiões: divórcio ou falecimento”, diz Mouta.
As novas regras da B3 podem incentivar mais mulheres a olhar para os cargos executivos de empresas listadas — e, de uma maneira mais ampla, o mercado de capitais como um todo — como um lugar possível para a atuação delas. “Reconhecemos que esse não é o ponto final da caminhada para suprir os gaps de representatividade nas companhias, mas é a medida liderada pela B3 para acelerar esse processo”, afirma Mouta.
A falta de inclusão na B3 fica bem evidente no recorte de gênero. O país é o sétimo do mundo em negócios comandados por mulheres, de acordo com o anuário Global Entrepreneurship Monitor. Só que boa parte delas está em negócios pequenos, com o ao mercado de capitais. Em razão disso, mulheres ainda penam para conquistar espaço na bolsa. Atualmente, pouco mais de 1,3 milhão de mulheres têm recursos por ali — 25% do total. Das 423 companhias listadas na B3, só 37% têm mulheres entre diretores estatutários.
A expectativa agora é de que o olhar mais atento da B3 para a questão de gênero consiga jogar luz sobre o jeito como elas aplicam os recursos financeiros — e sirva de exemplo para quem vier daqui para a frente. “As mulheres são mais disciplinadas nos investimentos, mas ainda são minoria no mercado de capitais”, disse Louise Barsi, fundadora da plataforma de educação financeira Ações Garantem o Futuro e também presente no evento da EXAME com o Movimento Aladas. “Elas pesquisam muito antes de começar a aplicar o dinheiro e, no geral, são mais disciplinadas, seguindo uma estratégia de investimento por mais tempo que os homens”, disse.