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Setor de calçados vê oportunidade no mercado externo em meio ao tarifaço de Trump: “Não é uma bolha”

Setor cresce no Brasil, encara queda nas exportações e aposta em fidelizar compradores internacionais

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de maio de 2025 às 18h03.

Última atualização em 21 de maio de 2025 às 15h02.

O setor de calçados brasileiro está otimista como há muito tempo não ficava. No centro das atenções, as tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump. Apesar dos temores sobre a possível invasão de produtos chineses no mercado interno, o setor calçadista enxerga no cenário atual uma oportunidade para fidelizar compradores internacionais, convertendo consultas pontuais em contratos maiores e mais estáveis.

“Não se trata de uma bolha. Podemos enfrentar oscilações no começo, mas queremos manter as exportações aquecidas”, afirma Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, durante coletiva na BFShow, evento que reúne fabricantes e compradores do setor.

“Apesar da instabilidade atual, os importadores americanos não voltarão a concentrar todos os pedidos em um só fornecedor. O Brasil está posicionado para ser uma alternativa”, diz Ferreira ao destacar a mudança no relacionamento comercial entre EUA e China.

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No ano ado, o mercado interno cresceu 8,4% em 2024, com produção atingindo 867,8 milhões de pares — número maior que o registrado em 2019. A produção está espalhada em 17 polos, concentrados principalmente no Nordeste, que responde por mais de 50% do volume nacional. Os principais estados produtores são Ceará (24%), Rio Grande do Sul (22%) e Minas Gerais (17%). O setor já gerou 9.000 empregos neste ano, chegando a cerca de 290.000 funcionários diretos.

O cenário é mais complexo em relação às exportações. Houve queda de 17,7% no volume exportado, com 97,4 milhões de pares enviados em 2024, contra 115,2 milhões em 2019. A Argentina, os Estados Unidos e a França continuam entre os principais mercados.

Projeções para 2025

Para 2025, a projeção indica crescimento modesto, porém consistente. A produção nacional deve avançar entre 1,4% e 2,2%, o maior ritmo dos últimos onze anos. As exportações têm expectativa de crescimento entre 2% e 5,2%, com a estimativa em torno de 2,5%. “Não é fácil fazer projeções neste cenário, que pode mudar rapidamente conforme decisões políticas e econômicas internacionais. Mas os produtores estão sendo demandados pelo mercado americano, e acreditamos que a exportação deve crescer”, explica o executivo.

O primeiro trimestre de 2025 mostrou produção ainda baixa, com crescimento de apenas 1%, mas já ultraou 202 milhões de pares fabricados. As exportações subiram 1,5%, com 39 milhões de pares e receita aproximada de 340 milhões de dólares.

A ApexBrasil vem adotando uma estratégia para ampliar a presença brasileira no exterior, aproximando compradores internacionais da cadeia produtiva local.

“Quando um comprador internacional participa de uma feira no exterior, ele vê a marca. Mas quando ele vem ao Brasil, visita à fábrica e entende a capacidade produtiva, isso muda a percepção e diminui o hiato”, explica Maria Paula Velloso, gerente de indústria e serviços da Apex.

O setor fecha parcerias nos Estados Unidos para abastecer a América Latina e o mercado americano com lotes menores e mais flexíveis, o que agrada varejistas que buscam agilidade e variedade. O desafio para 2025 será consolidar esse espaço, ampliando marcas e projetos, mesmo em um ambiente de incerteza.

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