Durante as negociações em Istambul, Moscou propôs um cessar-fogo parcial de '2 a 3 dias' em alguns setores do front, enquanto Kiev insiste em uma trégua total e incondicional
Agência de notícias
Publicado em 2 de junho de 2025 às 14h30.
Rússia e Ucrânia concordaram nesta segunda-feira, 2, em Istambul, onde participaram de negociações diretas, em trocar todos os seus prisioneiros de guerra gravemente feridos e os menores de 25 anos, além de 6 mil corpos de soldados de cada lado, disse o negociador-chefe ucraniano.
As tratativas acontecem um dia após os dois países lançarem seus maiores ataques aéreos contra os territórios um do outro, que resultou por um lado em ao menos 40 aviões russos abatidos em solo pela Ucrânia, e na morte de 12 soldados ucranianos em um campo de treinamento.
— Concordamos em trocar todos os prisioneiros de guerra gravemente feridos e gravemente doentes. A segunda categoria são os jovens soldados de 18 a 25 anos, em um formato de todos por todos — disse o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov. — Também concordamos em devolver 6 mil corpos de soldados mortos [por outros] 6 mil.
Durante as negociações, a Rússia também propôs um cessar-fogo parcial de "2 a 3 dias" em alguns setores do front, anunciou o negociador-chefe russo, enquanto Kiev insiste em uma trégua total e incondicional.
— Fizemos uma proposta bastante geral. Um cessar-fogo concreto de dois a três dias em algumas áreas do front, para que os comandantes possam recolher os corpos de seus soldados — disse o negociador Vladimir Madinsky durante uma coletiva de imprensa após as negociações.
Moscou e Kiev estão conversando sob pressão do presidente americano, Donald Trump, cujo fim da guerra era uma de suas promessas de campanha. Após a reunião desta segunda-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou sua disposição de sediar uma reunião entre os três líderes em um esforço para acabar com o conflito de mais de três anos.
— Meu maior desejo para ambos os lados é reunir Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky em Istambul ou Ancara, e até mesmo trazer Trump para o lado deles, se eles aceitarem — disse ele, acrescentando que a Turquia "tomará medidas" para facilitar tal encontro.
Trump já acusou ambos os lados de intransigência, tentando pressioná-los a negociar. Na semana ada, após um ataque russo a Kiev, Trump atacou duramente Putin, descrevendo-o nas redes sociais como "absolutamente LOUCO". Trump disse que estava considerando impor sanções adicionais a Moscou, mas ainda não tomou nenhuma medida.
A realização do encontro entre as partes permaneceu uma incógnita até a tarde de domingo, embora a proposição para um novo encontro tenha sido feita na quarta-feira da semana ada por Moscou. Kiev acusou o lado russo de não apresentar seus termos por escrito antecipadamente, em acordo com o estabelecido durante a primeira rodada de negociações, enquanto o Kremlin disse que os termos seriam apresentados diretamente em Istambul.
A preocupação ucraniana com a não apresentação dos termos de maneira antecipada é de que as demandas apresentadas presencialmente levassem a uma negociação inócua — caso as exigências fossem tão distantes que não permitissem sequer definir um ponto de partida para uma resolução. A Presidência russa, por sua vez, chegou a sinalizar a possibilidade de uma esperada reunião de cúpula entre Putin e Zelensky, se o encontro desta segunda progredisse.
— Nossa delegação está agora em Istambul e estamos preparados para tomar as medidas necessárias para a paz. Naturalmente, um ponto de partida seria um cessar-fogo e ações humanitárias, a libertação dos prisioneiros e o retorno das crianças sequestradas — disse Zelensky durante viagem oficial à Lituânia, antes do início da reunião em Istambul.
Autoridades ucranianas se encontraram com representantes da Alemanha, Itália e Reino Unido antes do encontro com os delegados russos para "coordenaram suas posições", também de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia.
Enquanto as negociações patinam, os ataques no campo de batalha se intensificaram. O Exército russo parece ter lançado uma nova ofensiva, avançando no ritmo mais rápido desde o outono ado (Hemisfério Norte) e abrindo uma nova frente na região de Sumy, no norte da Ucrânia. Também bombardeou cidades ucranianas com alguns dos maiores ataques com drones e mísseis do ano.
A Ucrânia, por sua vez, tem se adaptado e evoluído diante de um inimigo militarmente muito maior e com mais recursos. Drones ucranianos, em um ataque ambicioso e coordenado, atingiram bases aéreas dentro da Rússia neste fim de semana. O ataque, que Moscou afirmou ter danificado várias aeronaves, foi descrito por um proeminente blogueiro militar pró-Kremlin como "um dia sombrio para a aviação de longo alcance russa".
A extensão total dos danos ainda não foi avaliada, mas alvos russos foram atacados de leste a oeste do país, incluindo a Sibéria. A mídia ucraniana relatou que mais de 40 aviões russos foram abatidos no território inimigo, incluindo aeronaves de guerra como bombardeiros Tu-95 e Tu-22. A operação, que está sendo chamada de "Teia de Aranha", teria sido programada por 18 meses e conduzida com o uso de 117 drones. Uma estimativa aponta US$ 7 bilhões (R$ 40 bilhões) em danos.
Na madrugada do sábado para o domingo, a Rússia disparou 472 drones e sete mísseis contra o território ucraniano, segundo militares de Kiev, que o classificaram como o maior desde o início do conflito.
Durante a primeira rodada de conversas em Istambul, em meados de maio, altos funcionários dos EUA se reuniram separadamente com ucranianos e russos, mas deixaram para a Turquia a mediação das conversas diretas, em uma dança diplomática complicada.
Os ucranianos acusaram os russos de fazer ameaças e provocações, dizendo que estavam prontos para lutar por muitos anos e invadir mais regiões ucranianas. A delegação russa demonstrou confiança, dizendo estar "satisfeita com os resultados" das negociações, que descreveram como "organizadas por iniciativa do presidente da Rússia".
O objetivo de Kiev continua sendo garantir primeiro um cessar-fogo, antes de avançar para negociações por um acordo de paz mais amplo. Um alto funcionário ucraniano, sob condição de anonimato devido à sensibilidade das negociações, disse que as propostas incluíam disposições para um cessar-fogo em terra, no mar e no ar, com monitoramento feito por parceiros internacionais.
A Rússia sinalizou que não está interessada em um cessar-fogo temporário, mas sim em resolver as "causas raízes" da guerra — linguagem do Kremlin para exigências amplas, como o compromisso formal de não expandir a Otan para o leste, o reconhecimento de seus ganhos territoriais e outras condições que Kiev rejeita categoricamente.