São Paulo - Muitas vezes defasados em termos de tecnologia, design ou na oferta de itens de série, os carros brasileiros superam e muito seus pares vendidos lá fora em um único quesito: o preço. Se a entrada dos importados com suas agressivas estratégias de marketing ameaçava mexer com a concorrência e forçar as montadoras a rever as margens, o aumento do IPI para os veículos trazidos do exterior reforça as antigas regras do jogo: ao invés de tomar medidas para baratear a produção nacional, o governo recorre ao aumento da carga tributária para tornar os importados menos competitivos. É importante lembrar que, mesmo antes do aumento do IPI, os carros estrangeiros já pagavam no momento do desembarque no país uma alíquota de 35% de imposto de importação mais todos os tributos cobrados das montadoras instaladas no Brasil. O recente avanço dos carros importados no mercado local só comprova a grande ineficiência da indústria automobilística brasileira, que não conseguia manter mercado nem com tal privilégio. Ao invés de cortar impostos sobre as montadoras nacionais que investissem no Brasil como havia prometido, o governo decidiu subitamente elevar a altura da barreira aos carros importados, com o cuidado de isentar apenas os argentinos e mexicanos da medida. O impacto ao consumidor será enorme. Apesar de algumas lojas já realizarem reajustes, a maioria dos preços ainda nãos subiu e o mercado apenas trabalha com a estimativa de aumentos entre 25% e 28%. A medida deve afetar principalmente os carros de luxo. Nas próximas páginas, exame.diariomineiro.net mostra oito provas de que a diferença de preços dos carros no país e no exterior já é grande demais e que o novo aumento do IPI só vai agravar a injustiça com o consumidor brasileiro.

No exterior: 22.190 reais
No Brasil: 58.000 reais

Apesar de ter chegado ao Brasil apenas em 2009, o hatch da Hyundai conquistou o público brasileiro. Não por menos, ele é o veículo mais popular entre os importados que devem sofrer com a alta do IPI. De janeiro até agosto deste ano, mais de 25.800 unidades do i30 foram vendidas no país. Entre os motivos que explicam este sucesso estão os seis airbags, controle de estabilidade (ESP) e som com MP3, todos oferecidos na versão de entrada do carro. Segundo dados colhidos pela Molicar antes da subida do IPI, o carro era encontrado por 58.000 reais. Parece pouco? Na Coreia do Sul, o modelo mais simples - e igualmente equipado - é vendido pelo equivalente a 22.190 reais. Com o aumento do IPI, o i30 vendido no Brasil deve ficar ainda mais caro. Supondo que ele sofra um reajuste de 28%, a alíquota mais alta estimada pelos especialistas, o compacto ará a valer 74.240 reais, o suficiente para comprar três unidades do carro na Coreia e levar um troco de mais de 7.600 reais para casa.

No exterior: 59.000 reais
No Brasil: 135.000 reais Considerado um sedã de luxo, o Audi A4 é o carro mais caro da lista: o preço da versão de entrada de 135.000 reais. É verdade que os atributos do veículo impressionam. Bancos com ajuste elétrico, lanternas em LEDs, airbags, vidros com isolante térmico, faróis bi-xonônio e sensores de luz, chuva e estacionamento estão entre eles. Quem compra o mesmo carro nos Estados Unidos, contudo, leva o A4 por menos da metade, um desembolso equivalente a 59.000 reais. A montadora alemã já anunciou que os modelos da linha 2012 sofrerão um aumento de 10% até o fim de outubro. Mas novos reajustes não foram descartados. Caso sofra um aumento de 28%, o A4 no Brasil ará a ser vendido por impressionantes 172.800 reais.

No exterior: 56.490 reais
No Brasil: 79.000 reais Por ser importado da Espanha, o C4 Picasso é o único modelo da montadora sa ível de sofrer correção depois do aumento do IPI. Lançado em 2009 no Brasil, o carro replica boa parte dos detalhes técnicos do Grand Picasso, com a diferença de comportar cinco ao invés de sete ageiros. O visual também destoa, com design mais jovem e agressivo. Antes do aumento do IPI, o veículo era vendido por 79.000 reais por aqui. Com o acréscimo de 28% neste valor, ele pularia para pouco mais de 100.000 reais. Com generoso pacote de itens de série, o C4 Picasso é comprado pelos espanhóis por 56.490 reais. 

No exterior: 82.660 reais
No Brasil: 116.900 reais A tradicional estrela da Mercedes Benz saiu do capô e foi para a grade do sedã de luxo. O novo design também impôs linhas mais esportivas ao Classe C, modelo mais popular da marca no mundo. Aparentemente, as alterações agradaram os brasileiros: do começo do ano até agora, já foram vendidas 3.755 unidades do carro, que vai de 0 a 100 km/h em apenas 7,5 segundos. E isso apesar do Classe C não ser dos mais baratos. A versão de entrada do veículo é a C 180 Classic, que custa 116.900 reais. Se considerado um aumento de 28% no preço depois da medida anunciada pelo governo, o veículo chegaria a 149.630 reais. Na Alemanha, o mesmo modelo é encontrado pelo equivalente a 82.660 reais.

No exterior 27.630 reais
No Brasil: 49.900 reais

Nos Estados Unidos, o nome do sedã da Kia é Forte. De fábrica, ele vem com freios ABS, airbags, câmbio automático, controle de estabilidade (ESP) e tração (ASR), som com MP3 e entrada USB. Os interessados em levá-lo para a garagem na terra do Tio Sam desembolsam o equivalente a 27.630 reais. Embora o veículo seja o mesmo, no Brasil ele foi batizado de Cerato. A maior diferença, entretanto, está no preço. Por 49.900 reais, o motorista brasileiro ganha apenas os airbags e o sistema de som dos americanos. Caso o carro sofra o impacto do IPI e fique 28% mais caro, a disparidade vai crescer ainda mais, com o valor do Cerato batendo em 63.870 reais.

No exterior: 39.950 reais
No Brasil: 77.000 reais Apenas três carros da Chevrolet correm o risco de serem afetados pelo IPI mais alto: Ômega, Camaro e Malibu, sendo este último o mais popular por aqui. Até agosto, 1.310 unidades do Chevrolet Malibu foram vendidas no país. Com piloto automático, que permite ao motorista descansar as pernas em viagens, computador de bordo, acionamento a distância do motor e do ar condicionado, o sedã da Chevrolet também conta com airbags, ABS e assistência de frenagem em emergência. Trazido dos Estados Unidos – onde é comercializado por 39.950 reais – o carro deixa o portão das concessionárias brasileiras valendo 77.000 reais. O preço é 92,7% mais alto que o praticado lá fora. Caso um reajuste de 28% seja aplicado por aqui depois do aumento do IPI, esta diferença subirá para 146%, com o carro vendido a 98.560 reais.

No exterior: 36.540 reais
No Brasil: 69.900 reais Com visual retrô, o Mini Cooper, ganhou uma versão de entrada mais ível no Brasil: por 69.900 reais, é possível levar o compacto produzido pela alemã BMW para casa. Por este preço, o comprador vai ganhar apenas direção elétrica, CD player, freios ABS, controle de estabilidade e um motor 1.6 de 98 cavalos. Se for reajustado em 28%, o preço do Mini Cooper vai subir para 89.470 reais. Nos Estados Unidos, o carrinho de dois lugares é vendido por 36.540 reais, oferecendo itens adicionais como faróis de xênon e sensor de colisão.

No exterior: 86.162 reais
No Brasil: 110.000 reais Importado da Alemanha, o at 2.0 custa 110.000 reais no Brasil (140.800 reais se considerado um reajuste de 28%). As inovações tecnológicas são muitas. Um dispositivo detecta a fadiga do motorista e emite aviso sonoro quando identifica alternâncias no volante. Ar condicionado dual zone, bancos com função de aquecimento, Bluetooth e sistemas de controle de estabilidade e tração são alguns dos vários itens de série do carro, cujos opcionais são mais ligados ao conforto dos assentos do que à segurança dos ageiros ou à potência do motor. O generoso pacote parece justificar o salgado preço do veículo no país. Mas o consumidor alemão que leva a versão mais completa do carro para casa desembolsa o equivalente a 86.162 reais.