Gerdau: "Mercado subestima a relevância da operação americana da companhia", dizem os analistas do BTG Pactual (Tamires Kopp/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 2 de junho de 2025 às 10h57.
As ações da Gerdau (GGBR4) avançam mais de 6% na manhã desta segunda-feira, 2, e lideram os ganhos do Ibovespa, seguidas pelos papéis da Metalúrgica Gerdau (GOAU4), que sobem 5,5%.
O salto ocorre após o presidente Donald Trump anunciar, na sexta-feira, 30, a elevação da tarifa sobre aço importado para os Estados Unidos de 25% para 50%.
A medida, que entra em vigor em 4 de junho, foi apresentada durante um comício em Pittsburgh, sede histórica da siderurgia americana, e deve beneficiar empresas com produção local no país — caso da Gerdau.
Segundo relatório do BTG Pactual (d0 mesmo grupo de controle da Exame), a Gerdau é a principal beneficiária da nova política tarifária entre as empresas latino-americanas do setor. Isso porque cerca de 60% do EBITDA da companhia é gerado na operação norte-americana.
“A Gerdau tem uma alavancagem operacional significativa ao preço do aço nos EUA”, escrevem os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi, em relatório.
O banco estima que, se os preços do aço subirem 5% nos EUA em resposta à tarifa — um cenário considerado conservador —, o EBITDA da empresa pode crescer 12% em relação ao cenário-base, elevando o fluxo de caixa livre (FCF yield) projetado para 2026 de 10% para 13%.
A medida de Trump também pode atuar como gatilho de reprecificação para os papéis da Gerdau, que ainda negociam com desconto em relação aos pares americanos.
“Mesmo aplicando um múltiplo conservador de 5x EBITDA para a operação nos EUA, o modelo de soma das partes indica potencial de valorização de 30%”, diz o BTG.
A análise destaca ainda que o mercado subestima a relevância da operação americana da companhia. “A Gerdau continua sendo tratada como uma ação puramente brasileira, quando a realidade do seu EBITDA é cada vez mais internacional”, afirmam os analistas.
Historicamente, movimentos similares já trouxeram ganhos importantes para a empresa. Após a adoção das tarifas da Seção 232, em 2018, os preços do aço nos EUA subiram entre 10% e 16% em poucos meses, e a margem de EBITDA da Gerdau na região dobrou em um ano, de 6% para 13%.
O novo patamar tarifário deve reforçar a disparidade entre os preços americanos e os do resto do mundo. Atualmente, o vergalhão nos EUA é negociado a US$ 838 por tonelada, 88% acima do preço equivalente na China (US$ 445/t). Segundo o BTG, esse diferencial pode se ampliar, levando o mercado americano a operar “em outra órbita”.
Embora a Gerdau esteja mais exposta a produtos longos — segmento que sofre menor concorrência de importados nos EUA — o efeito geral da medida tarifária deve ser positivo, dado o enfraquecimento da competição externa.
“O país importa mais de 20% de seu consumo aparente de aço, e isso agora ficará bem menos competitivo”, nota o relatório.
Já o mercado de aços planos, menos relevante para a Gerdau, tende a ser o mais impactado pela nova tarifa. Ainda assim, o movimento pode gerar uma pressão de alta generalizada nos preços, beneficiando todos os players domésticos.
Além do cenário externo mais favorável, o BTG vê valor na ação mesmo sem considerar a nova tarifa. A Gerdau negocia hoje a menos de 4x EV/EBITDA 2025 e oferece dividend yield estimado de 3,6% para o ano, nas contas do banco.
A recomendação é de compra, com preço-alvo de R$ 20 — o que implica potencial de valorização de 31% em relação à última cotação de fechamento (R$ 15,25). A ação ainda está 27% abaixo da máxima dos últimos 12 meses (R$ 20,90).