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União Europeia está a um ponto da meta de emissões para 2030, em meio a debate sobre flexibilização

Setor energético lidera reduções enquanto agricultura e transportes enfrentam desafios estruturais

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia: Reorientação Pacto Verde Europeu para o Pacto Industrial Limpo reflete reformula a abordagem climática europeia em resposta às tensões contemporâneas entre ambição ambiental e imperativos econômicos. (Frederik Florin/AFP)

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia: Reorientação Pacto Verde Europeu para o Pacto Industrial Limpo reflete reformula a abordagem climática europeia em resposta às tensões contemporâneas entre ambição ambiental e imperativos econômicos. (Frederik Florin/AFP)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 26 de maio de 2025 às 12h06.

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A União Europeia se encontra a um ponto percentual de atingir sua meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030, com projeções indicando uma redução de cerca de 54% em comparação com os níveis de 1990.

Os dados, que serão anunciados pela Comissão Europeia na próxima semana, expõem também os meandros da transição energética europeia em um contexto de crescentes pressões econômicas e geopolíticas.

O cenário é paradoxal: enquanto o bloco se aproxima de suas metas de curto prazo, simultaneamente considera flexibilizar os critérios para objetivos de longo prazo.

A discussão sobre a meta de 2040, que prevê redução de 90% nas emissões, inclui opções como a incorporação de créditos de carbono, reconhecimento de emissões negativas através de captura e armazenamento de carbono, e ajustes na trajetória temporal das reduções.

Dinâmicas setoriais revelam desequilíbrios estruturais

A análise setorial revela disparidades significativas na implementação das políticas climáticas. O setor energético lidera as reduções, impulsionado pela expansão de energias renováveis, particularmente eólica e solar.

Contudo, setores estratégicos apresentam desempenhos contrastantes. A agricultura mantém-se como zona de tensão política, permanecendo como o único segmento sem metas específicas de emissões.

Autoridades europeias caracterizam a questão agrícola como "o elefante na sala", refletindo as dificuldades políticas de regulamentar um setor tradicionalmente resistente a mudanças regulatórias.

O setor de transportes enfrenta obstáculos estruturais para atingir os objetivos estabelecidos, enquanto as emissões relacionadas ao uso da terra registraram progressos limitados.

Fatores como exploração madeireira intensiva e eventos climáticos extremos, incluindo os incêndios florestais de 2023 no sul da Europa, comprometeram a capacidade de absorção de carbono pelos ecossistemas terrestres.

Contexto geopolítico redefine prioridades

As discussões climáticas europeias se desenvolvem em um ambiente de múltiplas pressões.

A guerra comercial com os Estados Unidos, a desaceleração econômica regional e as crescentes demandas por investimentos em defesa reconfiguraram as prioridades políticas dos 27 estados-membros, relegando questões climáticas a posições secundárias na agenda governamental.

Indústrias pesadas, que são particularmente afetadas pelos custos energéticos elevados, também tem questionado a sustentabilidade das metas atuais.

E representantes industriais argumentam que parcela significativa das reduções de emissões resulta de cortes na produção e fechamentos de instalações, não de processos sistemáticos de descarbonização, questionando a real eficácia das políticas implementadas.

Reorientação estratégica e resistência política

A transição da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do "Pacto Verde Europeu" para o "Pacto Industrial Limpo" (Clean Industrial Deal) sinaliza uma reorientação estratégica fundamental.

O processo iniciado com a reeleição de Ursula von der Leyen em julho de 2024 e concretizado em fevereiro de 2025, quando foi oficialmente lançado o "Pacto Industrial Limpo" durante o European Industry Summit em Antuérpia, foi gradual e refletiu as pressões competitivas globais enfrentadas pela UE.

A mudança incorpora medidas de simplificação regulatória que reduzem exigências de relatórios de sustentabilidade e diminuem o escopo de aplicação do mecanismo de ajuste de carbono nas fronteiras.

A indústria automobilística já obteve concessões importantes, incluindo o adiamento do cumprimento integral das metas de emissões de 2025 para 2027 e a aceleração da revisão da proibição de motores de combustão até 2035.

De outro lado, organizações climáticas expressam ceticismo quanto à substância das reduções europeias. A CAN Europe caracterizou os avanços como "em grande parte superficiais", argumentando que as políticas subjacentes permanecem inadequadas na maioria dos países para atingir os objetivos estabelecidos.

A dimensão global das reduções europeias expõe ainda limitações estruturais da abordagem regional. A participação da União Europeia nas emissões globais de carbono representa aproximadamente 6% em 2023, comparado aos cerca de 15% em 1990.

Simultaneamente, as emissões globais aumentaram mais de 60% desde 1990, evidenciando a necessidade de coordenação internacional mais efetiva.

Perspectivas e implicações sistêmicas

Importante lembrar que a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sob a presidência de Donald Trump intensifica a pressão sobre a União Europeia e a China como principais atores na governança climática global - e suas metas climáticas para 2035 influenciando diretamente os incentivos para outros países seguirem trajetórias similares.

A COP30 no Brasil será, também paraa Europa, um momento de definição. Os países apresentarão compromissos de redução de emissões às Nações Unidas em contexto de crescente polarização sobre políticas climáticas globais.

A definição da meta europeia de 2040 estabelecerá precedentes importantes para a arquitetura climática internacional.

O resultado determinará se o bloco manterá sua posição de liderança normativa ou se adaptará suas ambições às realidades econômicas e políticas contemporâneas, com implicações diretas para a credibilidade das negociações climáticas multilaterais.

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