Relatório publicado pela UFRJ revela alternativas que podem transformar um dos setores mais poluentes da indústria brasileira
Pesquisadores pedem por políticas públicas específicas para incentivar descarbonização do setor (Washington Alves/Reuters)
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 21 de março de 2025 às 07h30.

A produção de cimento, responsável por 26% das emissões de CO2 do setor industrial brasileiro, pode reduzir significativamente seu impacto ambiental com a substituição de sua principal matéria-prima. É o que aponta estudo divulgado nesta quinta-feira, 20, pelo projeto Descarbonização e Política Industrial (DIP-BR), conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O clínquer, componente essencial do cimento obtido pela queima de calcário em altas temperaturas, representa o maior vilão nas emissões do setor. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a fabricação de cimento corresponde a aproximadamente 2% das emissões totais do país em 2022.

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"A adição de substitutos não só reduz as emissões de carbono como também promove a circularidade ao utilizar subprodutos de outras atividades econômicas que seriam descartados", explica Julia Torracca, professora do Instituto de Economia da UFRJ e uma das autoras do documento.

Alternativas sustentáveis

Entre as alternativas apontadas pelo estudo estão o fíler calcário (obtido através da moagem do calcário em partículas menores), a argila calcinada e as biocinzas. A implementação dessas matérias-primas pode representar uma redução de cerca de 11% nas emissões de carbono na cadeia produtiva do cimento.

O Brasil ainda tem espaço para avançar em tecnologias de captura e armazenamento de carbono , dimensão em que as principais empresas do setor já estão investindo. Segundo Torracca, as cimenteiras brasileiras vislumbram essa como uma estratégia futura e desenvolvem pesquisas em tecnologias como a captura de CO2 por meio de águas antes da liberação do gás na atmosfera.

Para impulsionar a descarbonização do setor, os pesquisadores enfatizam a necessidade de políticas públicas específicas. "A política industrial brasileira em execução no momento não possui objetivos de descarbonização específicos para os diferentes setores industriais", aponta Torracca. "Com o foco principal nas emissões provenientes do uso da terra e da agropecuária, há uma falta de orientação clara sobre as metas para o setor industrial."

A revisão normativa também é considerada essencial, com a inclusão de metas claras de redução de emissões e a atualização das normas técnicas para facilitar a adoção de materiais inovadores. Segundo a pesquisadora, se as normas exigirem métricas mais alinhadas ao desempenho, isso permitirá maior flexibilidade na implementação de novos materiais.

O relatório identifica ainda entraves significativos para a modernização da indústria cimenteira no país, como o alto custo de implementação de novas tecnologias, a disponibilidade limitada de matérias-primas alternativas e os desafios logísticos decorrentes da dependência do transporte rodoviário.

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