Modelo pioneiro espera unir mercado financeiro e conservação florestal em projeto que movimentará mais de R$ 1,2 bilhão ao longo de 37 anos na Flona do Jatuarana
Concessão contempla aproximadamente 80% dos 570 mil hectares da Floresta Nacional (Flona) do Jatuarana, situada no município de Apuí, sul do Amazonas. (Ricardo Lima/Getty Images)
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 21 de maio de 2025 às 13h47.

Última atualização em 21 de maio de 2025 às 13h59.

A Bolsa de Valores do Brasil (B3) sedia hoje um marco histórico para a gestão ambiental brasileira: o primeiro leilão de concessão de manejo florestal realizado em ambiente de bolsa.

O evento, programado para iniciar às 14h desta quarta-feira, 21, une esforços do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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A concessão contempla aproximadamente 80% dos 570 mil hectares da Floresta Nacional (Flona) do Jatuarana, situada no município de Apuí, sul do Amazonas. O modelo de gestão prevê a exploração sustentável por 37 anos de uma área de 453 mil hectares, divididos estrategicamente em quatro lotes distintos.

Potencial econômico e estruturação técnica

O projeto tem previsão de arrecadação de até R$ 32,6 milhões anuais aos cofres públicos. A concessão foi estruturada pelo BNDES, que implementou um critério de julgamento híbrido, que considerará pontuação técnica — com base em propostas socioambientais — e oferta financeira de valor por metro cúbico de madeira, além do montante fixo da outorga.

Na época de lançamento do edital em fevereiro deste ano, a ministra Marina Silva — que estará presente ao leilão desta tarde — declarou:

"Além da geração de receita para as empresas e as comunidades locais, estamos falando em 932 empregos diretos e 466 indiretos. E o município de Apuí e o estado do Amazonas devem arrecadar, cada um, R$ 5,4 milhões por ano"

Compromisso socioambiental

O edital estabeleceu condições rigorosas para compatibilizar exploração econômica e preservação ambiental. Entre as exigências, as empresas vencedoras terão a obrigação de investir R$ 1,1 milhão por ano em projetos voltados para a comunidade local, para fortalecer o desenvolvimento social da região.

A concessão contempla a exploração diversificada de recursos naturais, incluindo madeira em tora, palmito, açaí, castanha-do-pará e óleo de copaíba, sempre em conformidade com práticas de manejo sustentável.

Manejo florestal como alternativa sustentável

O conceito de manejo florestal, definido pelo Ibama como "a istração da floresta para obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema ", é o que orienta toda a operação.

Na prática, o sistema prevê a extração seletiva de aproximadamente cinco árvores por hectare, privilegiando exemplares mais antigos.

A metodologia ainda estabelece um ciclo de recuperação de 30 anos até que a mesma área possa ser novamente manejada, assegurando a regeneração natural e o desenvolvimento das árvores mais jovens.

Arcabouço legal e inovação institucional

Conforme informações do ministério e da B3, a concessão está fundamentada na Lei nº 11.284/2006, que regulamenta a Gestão de Florestas Públicas, criando mecanismos para harmonizar conservação ambiental e utilização sustentável dos recursos florestais.

A realização do leilão no ambiente da B3 simboliza uma inovação institucional e a tentativa de se ampliar a transparência e competitividade no processo licitatório.

Ao integrar mercado financeiro e sustentabilidade ambiental, o modelo abre precedentes para que instrumentos econômicos sejam cada vez mais utilizados na implementação de políticas ambientais efetivas.

Em conversas informais, autoridades presentes manifestaram expectativas de que o leilão atraia investidores realmente comprometidos com o desenvolvimento sustentável da Amazônia e que promovam alternativas econômicas ao desmatamento predatório.

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