Redação Exame
Publicado em 3 de junho de 2025 às 08h45.
Última atualização em 3 de junho de 2025 às 08h46.
A Baleia-da-Groenlândia, ou bowhead whale (Balaena mysticetus), é considerada o mamífero mais longevo do planeta. Pesquisas indicam que alguns exemplares podem ultraar os 200 anos de idade, com estimativas que chegam a 211 anos por métodos de racemização de aminoácidos e até 268 anos segundo análises genéticas ainda não totalmente confirmadas.
Um caso emblemático ocorreu em 2007, quando foi capturada uma baleia com um fragmento de arpão do século XIX preso em seu corpo, sugerindo uma idade mínima entre 115 e 130 anos naquele momento. Essa descoberta reforça a incrível resistência e longevidade da espécie.
Baleia-da-Groenlândia (Wikimedia communs)
A técnica de racemização de aminoácidos aplicada a lentes oculares de baleias caçadas entre 1978 e 1997 revelou a existência de indivíduos com idades estimadas entre 177 e 245 anos, consolidando a ideia de que a espécie é capaz de viver muito além do que qualquer outro mamífero.
Além dela, outras espécies de baleias apresentam expectativas de vida variadas, que geralmente se situam entre 40 e 90 anos. A seguir, um ranking das espécies mais longevas conhecidas, com base em dados científicos:
Baleia-da-Greenlândia (bowhead whale)
Vida estimada: 200 a 268 anos
Observações: mamífero mais longevo, com adaptações genéticas que retardam o envelhecimento.
Baleia-franca-do-sul
Vida estimada: 100 a 150 anos
Observações: cerca de 10% vivem além dos 130 anos, algumas possivelmente até 150 anos.
Orca (baleia-assassina)
Vida estimada: fêmeas até 100 anos; machos entre 60 e 70 anos
Observações: há grande diferença sexual na longevidade.
Baleia-azul
Vida estimada: 70 a 90 anos
Observações: o maior animal do planeta, com longevidade relativamente alta.
Baleia-fin
Vida estimada: 60 a 100 anos
Observações: espécie de grande porte com expectativa de vida elevada.
Baleia-cinza
Vida estimada: 50 a 70 anos
Observações: conhecida pelas longas rotas migratórias.
Beluga
Vida estimada: 40 a 60 anos
Observações: espécie típica do Ártico.
Narval
Vida estimada: 40 a 60 anos
Observações: reconhecido pelo longo “chifre” presente nos machos.
Cachalote
Vida estimada: 60 a 80 anos
Observações: especialista em mergulhos profundos.
Baleia-minke
Vida estimada: 30 a 50 anos
Observações: a menor entre as baleias comuns, com vida relativamente curta.
A longevidade natural de algumas espécies pode ser drasticamente reduzida por fatores humanos. Por exemplo, a baleia-franca-do-atlântico-norte apresenta uma mediana de vida de apenas 22 anos devido a enredamentos em redes de pesca e colisões com embarcações.
Orca: baleias vivem até os 100 anos (Kardszárnyú delfin/Wikimedia Commons)
A impressionante longevidade das baleias-da-Groenlândia está diretamente ligada a mecanismos biológicos e genéticos avançados que retardam o envelhecimento e protegem contra doenças, especialmente o câncer.
Um estudo recente, publicado em maio de 2023 como preprint no bioRxiv, revelou que as células fibroblásticas dessas baleias possuem uma capacidade excepcionalmente alta e precisa para reparar quebras de fita dupla no DNA — um dos tipos mais graves de danos genéticos. Essa eficiência supera a observada em outros mamíferos e é atribuída às proteínas CIRBP (Cold-Inducible RNA-Binding Protein) e RPA2 (Replication Protein A2), altamente expressas nas células da baleia-borboleta.
Diferentemente de muitos animais grandes, como os elefantes, que possuem múltiplas cópias de genes supressores de tumor, as baleias-da-Groenlândia dependem principalmente da precisão e eficácia desses sistemas de reparo do DNA para manter a integridade do genoma ao longo dos séculos. A estratégia delas é reparar as células danificadas, e não eliminá-las, evitando a perda excessiva de células e reduzindo o risco de câncer.
Além disso, as baleias apresentam eficiência elevada tanto no reparo por junção de extremidades não homólogas (NHEJ) quanto na recombinação homóloga (HR), os principais processos para correção das quebras duplas do DNA, garantindo a estabilidade cromossômica e retardando o envelhecimento celular.
A proteína CIRBP, além de contribuir para o reparo genético, pode também oferecer proteção contra o estresse genotóxico causado pelo ambiente extremo do Ártico, onde essas baleias vivem, reforçando sua resistência e longevidade.
Este mecanismo eficiente de manutenção do DNA explica, em parte, o fenômeno conhecido como Paradoxo de Peto — a ausência de altas taxas de câncer em animais grandes e longevos. A baleia-da-Groenlândia, portanto, exemplifica como evoluções moleculares específicas permitem a sobrevivência e reprodução por períodos extraordinários, ultraando facilmente os dois séculos de vida.