Ciência

Cientistas brasileiros descobrem superterapia para cura da AIDS

Trata-se do primeiro estudo, em escala global, a testar um supertratamento em indivíduos cronicamente infectados pelo HIV

Pesquisa: brasileiros estão desenvolvendo também uma vacina (Westend61/Getty Images)

Pesquisa: brasileiros estão desenvolvendo também uma vacina (Westend61/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 5 de julho de 2020 às 13h07.

Última atualização em 6 de julho de 2020 às 19h25.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que a cura da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) está próxima. Trata-se do primeiro estudo, em escala global, a testar um supertratamento em indivíduos cronicamente infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). 

Quem coordena a pesquisa é o infectologista Ricardo Sobhie Diaz. Juntamente com a sua equipe, Diaz vem trabalhando em duas frentes para a cura da doença. Uma delas utiliza medicamentos e substâncias que matam o vírus no momento da replicação e eliminam as células em que o HIV fica adormecido (latência); a outra desenvolve uma vacina que leva o sistema imunológico a reagir e eliminar as células infectadas nas quais o fármaco não é capaz de chegar.

A pesquisa foi realizada com 30 voluntários com carga viral indetectável, sob tratamento padrão, conforme o que é atualmente preconizado: a combinação de três tipos de antirretrovirais, mais conhecida como “coquetel”. Os voluntários foram divididos em seis subgrupos, recebendo – cada um deles diferentes combinações de remédios, além do próprio “coquetel”.

Para os integrantes do subgrupo que apresentou os melhores resultados até o momento, foram istrados mais dois antirretrovirais: o dolutegravir, a droga mais forte atualmente disponível no mercado; e o maraviroc, substância que força o vírus, antes escondido, a aparecer. 

Eles também receberam duas substâncias que potencializam o efeito dos medicamentos: a nicotinamida – uma das duas formas da vitamina B3, que mostrou ser capaz de impedir que o HIV se escondesse nas células; e a auranofina – um antirreumático, que deixou de ser utilizado há muitos anos para tratar a artrite e outras doenças reumatológicas. A auranofina revelou potencial para encontrar a célula infectada e levá-la ao suicídio.

O infectologista explica que os testes in vitro, in vivo (em animais) e, agora, em humanos confirmam que a nicotinamida é mais eficiente contra a latência quando comparada ao potencial de dois medicamentos istrados para esse fim e testados conjuntamente.

Vacina 

Apesar da descoberta dessas substâncias (a nicotinamida e a auranofina) para a redução expressiva da carga viral, os pesquisadores concluíram que seria necessário algo estratégico que ajudasse a imunidade do paciente contra o vírus. Dessa forma,  eles desenvolveram uma vacina de células dendríticas, que conseguiu ensinar o organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruir uma a uma, eliminando completamente o vírus HIV. A vacina de células é fabricada a partir de monócitos (células de defesa) e peptídeos (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos) do vírus do próprio paciente.

Uma vez apresentados, esses linfócitos, que participam do controle de infecções, aprendem a encontrar e matar o HIV presente em regiões do corpo – chamadas pelos especialistas de “santuários” – aonde os antirretrovirais não chegam ou, quando chegam, atuam de forma muito modesta, como cérebro, intestinos, ovários e testículos. 

Os seis pacientes que fizeram parte do subgrupo que recebeu o supertratamento ainda aguardam os resultados finais da terceira dose da vacina. Após análises de sangue e das biópsias do intestino reto deste grupo vacinado  que os pesquisadores partirão para o desafio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu organismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos”, conclui. “Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí sim, poderemos falar em cura”, afirma Ricardo Sobhie Diaz, segundo à Agência Unifesp.

Enquanto esses resultados não forem concluídos, o infectologista deixa o alerta. “Apesar do avanço no tratamento e controle do HIV, a infecção por esse vírus ainda é a pior notícia que podemos dar ao paciente em termos de doenças sexualmente transmissíveis”, declara. “A pessoa com HIV, mesmo com carga viral indetectável, a por inúmeros processos inflamatórios devido aos efeitos colaterais dos medicamentos."

Além disso, o uso de preservativos durante a relação sexual garante – segundo o coordenador – a proteção contra o HIV e outras doenças graves para quem não tem o vírus e principalmente para quem já o tem. “Atualmente, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos afirma que pessoas com carga viral indetectável não transmitem HIV. A falta de proteção pode, porém, acarretar ao indivíduo com o vírus controlado a reinfecção por um tipo diferente de vírus HIV ou por outro mais resistente.”

HIV E CORONAVÍRUS

A Conferência Internacional sobre Aids, convocada a cada dois anos, deveria se reunir hoje em São Francisco, EUA. Porém, com a pandemia do coronavírus,  discussões sobre a inovação dos  tratamentos existentes e possíveis vacinas - que ainda não existem -  foram realizadas via internet.  Os custos dos medicamentos e como a parcela mais vulnerável da população tem o a estes também foi tema de discussões.

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