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Topázio Neto, de Floripa: A política precisa de mais empresários com visão de gestão

Reeleito em primeiro turno em 2024 e com forte presença nas redes sociais, o prefeito da capital catarinense Topázio Neto aposta na nova marina e em projetos de mobilidade para impulsionar o crescimento da cidade enquanto pondera sobre futuro político

Topázio Neto: "Eu pretendo terminar o meu mandato inteiro. Não vou sair antes. Depois, talvez em 2030, penso em novos desafios. Naturalmente, seria para o governo do estado. Mas ainda é cedo" (Luca Gebara/Divulgação)

Topázio Neto: "Eu pretendo terminar o meu mandato inteiro. Não vou sair antes. Depois, talvez em 2030, penso em novos desafios. Naturalmente, seria para o governo do estado. Mas ainda é cedo" (Luca Gebara/Divulgação)

Publicado em 7 de abril de 2025 às 06h02.

Última atualização em 8 de abril de 2025 às 11h35.

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FLORIANÓPOLIS — “Quanto mais empreendedores e empresários tiverem vontade de experimentar uma posição na área pública, melhor.” A frase de Topázio Silveira Neto, prefeito de Florianópolis, ajuda a entender a linha de atuação que adotou desde que assumiu a gestão municipal em 2022.

Empresário do setor de tecnologia e filiado ao PSD, Topázio defende que a visão de processos e gestão trazida da iniciativa privada pode ser aplicada no setor público, desde que adaptada a um ambiente mais regulado. "Na empresa, você pode fazer tudo que não é proibido. Na prefeitura, só pode fazer o que é permitido", afirma o prefeito, em entrevista à EXAME.

Antes da política, Topázio construiu carreira empresarial. Fundou em 1999 a Multiação, primeiro call center de Santa Catarina. Em 2009, criou a Flex Center, que chegou a ser o maior empregador privado do estado, com 15 mil funcionários.

Topázio ingressou na vida pública em 2020, como vice-prefeito na chapa liderada por Gean Loureiro (PSD). Em 2022, com a renúncia de Loureiro para disputar o governo estadual, assumiu a prefeitura. No ano seguinte, foi eleito no primeiro turno, com 58,49% dos votos válidos.

Prefeito 'TikToker'

Desde então, sua gestão tem focado em projetos de mobilidade urbana, saúde, educação e modernização istrativa. Entre as ações está o alargamento das praias dos Ingleses e de Jurerê, o lançamento do Multihospital no Norte da Ilha, previsto para 2025, e a construção da nova marina de Florianópolis, uma obra estimada em 250 milhões de reais que enfrenta desafios no licenciamento ambiental.

Em paralelo, Topázio investiu na comunicação direta com a população, o que rendeu a ele o apelido de "Prefeito TikToker". Ficou conhecido pela atuação nas redes sociais, utilizando vídeos curtos para apresentar obras, projetos e problemas urbanos. "Minha agenda de comunicação é separada da agenda da prefeitura", explica.

Hoje, soma cerca de 480 mil seguidores no Instagram e 370 mil no TikTok. A estratégia é mostrar a cidade de forma visual, abordando desde trilhas e praias até reformas e melhorias urbanas.

Filiado ao PSD, Topázio adota um posicionamento pragmático. Durante as eleições, recebeu apoio de eleitores de diferentes espectros ideológicos, focando a campanha em temas locais como infraestrutura, turismo e qualidade de vida. Sua gestão tenta evitar temas de polarização política. Na entrevista a seguir, o prefeito de Florianópolis fala do seu estilo de governar e do que pretende fazer com o capital político conquistado até agora.

O Sr. ficou conhecido no meio político como o “prefeito TikToker” em função da popularidade nas redes sociais. Como surgiu essa estratégia de comunicação?

A gente aprendeu que rede social é sobre entretenimento e pessoas. Se for chato, ninguém assiste. Então, usamos humor e leveza para ar conteúdo sério. Eu sempre fui assim. Autêntico. Minha agenda de comunicação é separada da agenda da prefeitura. Nos fins de semana, gravo quatro ou cinco vídeos. Tenho uma equipe pequena: um redator, um videomaker e um editor. E funciona. No Instagram, temos 480 mil seguidores. No TikTok, 370 mil. Somados, quase 1 milhão.

E como lidar com a polarização política nas redes sociais?

A rede social de um prefeito é diferente da de um deputado. Prefeito fala de buraco na rua, escola, saúde. E aí você agrada direita, esquerda, centro. Na minha campanha eleitoral do ano ado, as pessoas perguntavam: "Topázio é de direita ou esquerda">

Qual foi o maior aprendizado em rede social até hoje?

Que ela é uma via de mão dupla. Antigamente, na TV ou no jornal, você só emitia informação. Agora, recebe instantâneo. Aprende o que engaja, o que não funciona. Por exemplo, trilhas e praias têm ótimo engajamento. Casos de causa animal também.

O Sr. também usa inteligência artificial (IA) nos seus vídeos. Como funciona?

A gente já usa IA para traduzir os vídeos para espanhol, por exemplo. O curioso é que, depois, argentinos e uruguaios acham que eu falo espanhol fluente e vêm conversar comigo na praia. Aí tem que pedir para falar devagar. A tecnologia amplia muito nosso alcance.

Sobre a gestão pública: o que o Sr., vindo da iniciativa privada, aprendeu?

A primeira coisa é que a máquina pública é muito diferente. Na empresa, você pode fazer tudo que não é proibido. Na prefeitura, só pode fazer o que é permitido. Se não entender isso, sofre. Aprendi rápido. E trouxe práticas do setor privado: controle de custos, modernização dos sistemas, cobrança de eficiência.

O que foi feito para modernizar Florianópolis?

Atualizamos todos os sistemas da prefeitura. Trocamos softwares antigos, melhoramos a gestão financeira, criamos novos processos. Atualizamos também o plano diretor, que era de 2014. Antes, tínhamos uma cidade espalhada e difícil de atender com infraestrutura. Agora, adensamos onde já existe rede de esgoto, mobilidade, estrutura.

E sobre o futuro político? Há planos além da prefeitura?

Eu pretendo terminar o meu mandato inteiro. Não vou sair antes. Depois, talvez em 2030, penso em novos desafios. Naturalmente, seria para o governo do estado. Mas ainda é cedo. Agora, meu foco é entregar resultados para Florianópolis.

Qual conselho daria para empresários que pensam em entrar para a política?

Quanto mais empreendedores e empresários tiverem vontade de experimentar uma posição na área pública, melhor. Isso seria muito saudável. Empresário tem visão de gestão, de eficiência. Mas precisa virar a chave: no setor público, tudo é mais lento, mais controlado. Se entender isso, pode fazer uma diferença enorme.

Um tema recorrente da sua istração neste momento é a nova marina de Florianópolis. Em que pé está esta obra?

Florianópolis é uma cidade muito vibrante. Tem uma classe empresarial que gosta de participar das coisas da cidade. Quando você mexe em temas como a marina, isso gera muita discussão, porque aqui a gente também tem um ativismo judicial muito forte, especialmente ligado ao meio ambiente. A licença da marina está em debate há oito anos. Já ou por todos os órgãos estaduais. O IBAMA dizia que não era competência dele licenciar, e sim do órgão estadual. Mas, aos 48 do segundo tempo, um procurador federal questionou de novo. Agora, o TRF4 pediu para consultar o IBAMA mais uma vez. Estou tranquilo que o IBAMA vai reforçar que não é com eles. Só que isso me joga 60 dias para frente.

Qual é a importância da obra para a cidade?

Tenho um investidor disposto a colocar 250 milhões de reais no projeto. São 440 mil metros quadrados, 140 mil de área pública, mais um shopping, mais 600 vagas para barcos. Cada barco gera de 6 a 8 empregos. Então, estamos falando de mais de 3.500 empregos. A marina hoje é para Florianópolis o que o novo aeroporto foi há cinco, seis anos. Um ponto de virada. Nosso aeroporto não comportava voos internacionais, e isso mudou tudo. Agora, com a marina, vamos atrair o turismo náutico e a chamada Blue Economy, a economia do mar. Barcelona, por exemplo, já está focada nisso. Em Niterói, a gestão municipal avançou muito nesse tema. Não quero que Floripa perca esse barco.

Como Florianópolis está se posicionando no turismo nacional hoje?

Floripa é a terceira cidade mais procurada do mundo para o primeiro trimestre, segundo o (site de reservas) Booking. Está na frente de Rio, São Paulo, Salvador. E por quê? Porque aqui o turista pode sair na rua tranquilo. Não precisa esconder o relógio. A cidade entrega o que promete. Eu digo que marketing é importante, mas o pós-venda é ainda mais. Se a pessoa vem e não gosta, nunca mais volta. Nosso NPS, o índice de satisfação, é altíssimo.

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