Arroz: alimento base na culinária japonesa enfrenta escassez e alta nos preços (Getty Images)
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Publicado em 11 de junho de 2025 às 08h43.
O Japão vive uma crise incomum: a escassez de arroz. Base da alimentação no país, o caso levou o preço do alimento a quase dobrar em um ano, com pacotes do cereal chegando a custar mais de R$ 1 mil. O problema tem se agravado nos últimos anos e agora pressiona o custo de vida, impacta escolas e restaurantes e ameaça se tornar um tema decisivo nas eleições de julho, segundo a Bloomberg.
O problema começou em 2023, após um verão muito quente que prejudicou a colheita, se tornando a menor em mais de uma década. Com o fim das restrições da pandemia de covid-19, a demanda de turistas e restaurantes voltou a aumentar, apertando ainda mais o mercado. Em agosto de 2024, um alerta de terremoto fez a população ar a estocar arroz, elevando ainda mais os preços. Além dos fatores climáticos e da corrida por estocagem, antigas políticas do governo também contribuíram para limitar a capacidade de resposta à crise.
Desde os anos 1970, o Japão controla a produção para evitar excesso de oferta, subsidiando agricultores que respeitam limites de produção. Essa política protege os preços, mas deixa o mercado com pouca flexibilidade para mudanças repentinas. Com a população diminuindo, o governo tem reduzido essas metas para ajustar a demanda, explica a Bloomberg.
Além disso, o país mantém tarifas altas para importação, protegendo a produção local. No ano ado, o Japão produziu 7,34 milhões de toneladas de arroz, enquanto importa pouco mais de 770 mil toneladas com tarifa zero. A tarifa sobre importações extras chega a cerca de 200%.
Esses fatores fizeram o preço do arroz dobrar em um ano e impulsionar a inflação, que chegou a 3,5% em abril. O consumo, embora menor que nas décadas adas, ainda é significativo: 140 gramas por dia por pessoa. O aumento dos preços afetou pratos tradicionais como onigiri e sushi, que ficaram mais caros. Com a alta e o risco de desabastecimento, medidas de racionamento começaram a surgir até mesmo em grandes redes de supermercado.
O Japão mantém reservas estratégicas de arroz desde 1995, com cerca de 910 mil toneladas guardadas para emergências. Em março, o governo leiloou parte dessas reservas, mas o alimento não chegou aos consumidores. O Ministério da Agricultura apontou que o produto ficou retido na cadeia de distribuição, devido à estrutura complexa do setor.
Em maio, o ministro Shinjiro Koizumi liberou mais 300 mil toneladas por meio de venda direta a varejistas, com preço fixado. Grandes redes, como Rakuten, venderam o arroz por cerca da metade do preço médio e conseguiram esgotar o estoque em poucas horas.
Mesmo com a crise, o governo japonês reluta em ampliar as importações. Em abril, o país voltou a comprar arroz da Coreia do Sul, após 25 anos, mas em quantidades simbólicas: apenas 2 toneladas no primeiro envio. Um novo carregamento de 20 toneladas está previsto.
Segundo a Bloomberg, também se cogitou aumentar as compras dos Estados Unidos, mas a ideia foi rejeitada diante da pressão de agricultores e eleitores contrários ao arroz estrangeiro. Em negociações adas, como no governo Trump, o Japão cedeu na importação de carne bovina, mas manteve o arroz fora do acordo.
Na política do país, a escassez do alimento está apresentando um impacto maior e demonstrando a insatisfação de eleitores.
Em maio, o então ministro da Agricultura, Taku Eto, brincou dizendo que nunca precisou comprar arroz porque ganhava de presente. A declaração foi vista como insensível e custou seu cargo.
Pesquisas indicam um eleitorado dividido. Um levantamento da NHK mostra que 43% acreditam que os preços vão cair, enquanto 45% apostam que vão continuar altos. Com a eleição se aproximando, o custo do arroz — prato tradicional do país — pode influenciar diretamente o resultado nas urnas.