Colheita na Cooxupé: primeiro lote de café com fertilizante sustentável da Yara será colhido na atual safra. (Cooxupé/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 5 de junho de 2025 às 06h05.
Última atualização em 5 de junho de 2025 às 10h29.
A colheita de café da Cooxupé — a maior cooperativa da bebida do mundo — será diferente neste ano. A atual safra, que já começou a ser colhida, é a primeira da empresa brasileira com o fertilizante lower carbon (baixíssimo carbono) da norueguesa Yara Fertilizantes. O produto é produzido a partir de uma matriz renovável e reduz em 40% a pegada de carbono das plantações.
O acordo entre as duas companhias foi assinado em 2023. Nesta primeira fase, aproximadamente 30 produtores da cooperativa aplicaram o produto, proveniente da planta de Porsgrunn, na Noruega, e disponibilizado aos cooperados em novembro do ano ado. Segundo a empresa, além de reduzir o impacto ambiental, o insumo melhora a qualidade do grão de café.
A cooperativa exporta café para 50 países. Em 2024, a empresa registrou um aumento de 67% no faturamento, atingindo R$ 10,7 bilhões. Para 2025, a estimativa é uma comercialização de 6 milhões de sacas de arábica, ante os 6,6 milhões de sacas de 2024. A receita, no entanto, deve subir devido aos preços mais elevados do café.
"A Cooxupé é um exemplo interessante de como conseguimos aplicar nossa estratégia de descarbonização no setor agrícola. A cooperativa tem sido uma parceira-chave. Trabalhamos juntos para melhorar a produtividade e a qualidade do grão", diz Chrystel Monthean, vice-presidente executiva da Yara para as Américas, em entrevista à EXAME.
Sem abrir os valores do quanto foi e está sendo investido, a executiva afirma que o projeto com a cooperativa brasileira é o primeiro de uma série de medidas que a Yara pretende desenvolver globalmente para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Durante muitos anos, a indústria de fertilizantes foi apontada por estudiosos e ativistas como uma das principais fontes de poluição do solo. Na visão da VP, o movimento da Yara não é um mea culpa, mas coloca a companhia no centro das discussões sobre o tema, em um ano de COP 30 no Brasil, além dos preços altos do café no Brasil — e no mundo — em função das intempéries climáticas.
"Com a Cooxupé, demonstramos como podemos integrar práticas de descarbonização de forma eficaz no setor cafeeiro. Esse é um movimento importante não apenas para a produção de café no Brasil, mas como modelo para outras partes do mundo”, afirma.
Na prática, a companhia norueguesa está revisando a origem do nitrato, uma das matérias-primas do fertilizante — no Brasil, por exemplo, a Yara iniciou a produção de amônia renovável em sua unidade de Cubatão (SP), a partir do biometano, no ano ado.
Para Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, a utilização de fertilizantes lower carbon nas lavouras vem ao encontro da agenda ESG e das exigências mundiais do mercado e do consumidor.
"Nossa força vem do cooperativismo e de parcerias que levam aos nossos cooperados a inovação e a adoção de tecnologias e insumos, viabilizando, dessa forma, as boas práticas agrícolas dentro das propriedades", afirma.
O primeiro levantamento da cooperativa sobre a colheita, divulgado nesta quarta-feira, 4, mostra que, até 30 de maio, os trabalhos atingiram, em média, 10,1% das áreas semeadas no Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Média Mogiana (SP) e Matas de Minas.
Com sede em Guaxupé (MG) e atuação em mais de 360 municípios de Minas Gerais e São Paulo, a cooperativa afirma que não há atrasos. No entanto, na mesma época do ano ado, a média era de 13,6%, e no ano anterior, 12,9%.
Além da Cooxupé, a Yara anunciou nesta quinta-feira, 5, uma parceria com a Coocacer, outra cooperativa referência em café de alta qualidade, para o fornecimento do fertilizante lower carbon.
O contrato também inclui a transferência de conhecimento para adoção de práticas agrícolas, métodos e ferramentas digitais com potencial para aumentar a produtividade da cultura, diminuindo ainda mais a pegada climática envolvida na produção do grão.